Como o cidadão comum imediatamente percebeu pelo efeito galopante dos preços dos combustíveis, Portugal e a Região Norte não vão passar ao lado dos impactos da guerra na Ucrânia. Senti-los-emos em muitas dimensões do nosso quotidiano. Esses impactos não se confinarão ao setor energético, repercutindo-se por sua via em todos os setores produtivos, e estendendo-se de forma especial ao setor alimentar, dada as vocações ucraniana e russa de “celeiros do Mundo”, e a algumas indústrias, como o automóvel.
Estes choques serão mais duradouros que uma guerra cujo termo não conseguimos prever, mas cuja destruição e morte sentimos a uma distância muita próxima. O valor da confiança e o clima de estabilidade, indispensáveis às trocas e ao crescimento económico, estarão quebrados por muito tempo.
Precisamos de antecipar – tanto quanto seja possível empregar este termo – respostas corajosas e ousadas. Por exemplo, acelerando fortemente a agenda da descarbonização e de produção das energias de fonte renovável, em que o Norte é referência
Um comportamento de avestruz não resolverá nenhuma das ameaças que esta crise gera. Precisamos de antecipar – tanto quanto seja possível empregar este termo – respostas corajosas e ousadas. Por exemplo, acelerando fortemente a agenda da descarbonização e de produção das energias de fonte renovável, em que o Norte é referência. Multiplicando os esforços na eficiência energética do setor industrial e da habitação. Substituindo matérias-primas e valorizando e fomentando outros mercados de abastecimento, privilegiando a proximidade e os espaços do Atlântico e da língua portuguesa. Atuando na qualidade dos nossos territórios e das suas ofertas de emprego para acolher e integrar migrantes. Reorientando as nossas exportações, prosseguindo a reconversão de um modelo intensivo, baseado na quantidade e baixo preço, por um modelo fundado na inovação, na segmentação e na qualidade.
Também para uma governação central esclarecida e atuante nas frentes externas, precisamos de um Estado descentralizado, próximo e de confiança no plano interno
A Europa recusa uma nova idade das trevas. Este nosso Velho Continente, cujos valores apreciamos, reclama visão e liderança reforçadas. Também para uma governação central esclarecida e atuante nas frentes externas, precisamos de um Estado descentralizado, próximo e de confiança no plano interno.
Os piores fantasmas, dúvidas e temores podem turvar a visão e tolher a ação. É em momentos como estes que o pensamento estratégico e a capacidade de resposta coletiva são sujeitos a uma prova de esforço.
Nota: Este artigo de opinião é, também, publicado no Jornal de Notícias.
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