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Presidente da CCDR - Norte
Falar de dinheiro
"Falar de dinheiro era um assunto demasiado terreno, pouco elegante, quase mesquinho."
20 Abr 2022, 17:30

A nossa educação tradicional sempre foi avessa a isso. Falar de dinheiro era um assunto demasiado terreno, pouco elegante, quase mesquinho.

Felizmente, isto está a mudar num momento especialmente decisivo de definição de grandes políticas públicas – políticas e respetivos orçamentos, e sua distribuição, que determinarão o futuro das diferentes regiões portuguesas, profundamente assimétricas e diferenciadas. O dinheiro não é, pelo menos na procura do bem coletivo, um fim em si mesmo, mas uma condição indispensável para acelerar mudanças e alterar estados de coisas. Sabemos isto por experiência própria.

Falar de dinheiro é matéria de interesse público e pode ser debate de elevação, porquanto se fale de futuro e de estratégias. O país ganhará com esse debate e com um Norte – seus municípios e setores, como a Cultura – com voz.

Foi isto e não outra coisa que motivou há dias cidades e comunidades intermunicipais da região Norte a tomar posição a respeito da desigualdade do próximo ciclo de apoios comunitários do “Portugal 2030”, na esfera do desenvolvimento urbano. O mesmo sucedeu com a reportagem especial do JN, domingo passado, sobre a distribuição centralizada da gestão dos fundos do PRR. Outro exemplo chegou-nos ontem de Braga, onde esteve reunida uma excelente representação do setor cultural da Região Norte, num encontro inédito de trabalho. Cerca de 50 instituições e operadores culturais apresentaram propostas para o investimento no desenvolvimento da Cultura, das artes e das indústrias criativas a Norte, assim como de ajustamento de mecanismos do seu financiamento. Nesse contexto, reclamaram não apenas “meios”, mas também uma autonomia de gestão regional dos fundos europeus (o termo exato foi “regionalização”) como via para uma orientação justa desses meios às realidades do setor e dos territórios nos quais radicam a sua atividade.

Uma nota dominante nestas intervenções é o facto de se compreender com clareza que os desafios de hoje não são os mesmos do passado. Há uma semântica nova para aprender, onde pontificam buzzwords como inovação, digitalização, diferenciação, capacitação ou sustentabilidade, Mas há também uma consciência esclarecida de que essas prioridades se apliquem com abordagens distintas em função dos territórios. O Norte não é o Alentejo, como Trás-os-Montes não são a Área Metropolitana do Porto.

Falar de dinheiro é matéria de interesse público e pode ser debate de elevação, porquanto se fale de futuro e de estratégias. O país ganhará com esse debate e com um Norte – seus municípios e setores, como a Cultura – com voz.

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