

Orham Pamuk, escritor nascido em Istambul e vencedor do Prémio Nobel em 2006, numa das suas lúcidas reflexões sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, alertou para o perigo, que se pode transformar em racismo, no que diz respeito a olhar para o povo russo como os mesmos olhos com olhámos para o ditador Putin e a sua Nomenklatura.
Indo também ao encontro de Matthew Williams, autor que recentemente lançou o livro “A ciência do ódio”, é importante termos bem presente o nosso papel, individual e coletivo, para nestes tempos de guerra evitarmos a escalada o ódio que, regra geral, se abate sobre os menos culpados.
Da mesma forma que o mundo ocidental e ocidentalizado, democrático, defensor dos Direitos do Homem, da Democracia e da(s) Liberdade(s) não pode ser complacente, hesitante ou ingénuo com os atos e motivações da dupla Putin-Lavrov, também terá de ter muito cuidado ao meter nesse tenebroso saco da Praça Vermelha, o povo russo tout-court!
Apesar de não termos dúvidas que há muitos russos que apoiam convictamente esta barbárie perpetrada contra a Ucrânia (e aqui sim: contra os dirigentes e contra TODO o povo ucraniano), há de certeza muitos mais que não se reveem e condenam até com vergonha da sua nacionalidade, esta decisão insana soviético-imperialista. Veja-se recentemente a demissão e fuga da Rússia de Anatoly Chubais, destacado Conselheiro e Alto Funcionário do Regime.
Orham Pamuk é muito claro: é uma invasão inaceitável, que não pode ser maquilhada pela hipócrita designação russa de “operação especial”, por um lado, e por outro é bem claro para todo o mundo que a culpa não é da NATO, mas sim dos autocráticos decisores russos, que verdadeiramente são os invasores.
as guerras dentro da Guerra que se vão travando, têm vários palcos para além das massacradas e corajosas cidades e território da Ucrânia: a Comunicação Social, as Redes Sociais e até as e nas nossas inevitáveis conversas com amigos, familiares
Assim, as guerras dentro da Guerra que se vão travando, têm vários palcos para além das massacradas e corajosas cidades e território da Ucrânia: a Comunicação Social, as Redes Sociais e até as e nas nossas inevitáveis conversas com amigos, familiares, no trabalho e na sociedade em geral, entre outras. Destacamos, no entanto, estas três:
A Comunicação Social (apesar do show-off e da reportagem-espetáculo em muitas situações…) é essencial para vermos a realidade bem próximo de nós e que, também, nenhum de nós está livre de se ver envolvido numa guerra. Não sabemos como isto vai escalar! A este respeito, Francisco Proença Garcia, Tenente-Coronel de Infantaria na reforma e Professor de Estudos Políticos na Universidade Católica e no Instituto Universitário Militar, disse claramente numa entrevista à TSF, há poucos dias, que “os nossos filhos têm de estar preparados para um dia combaterem pela UE”. Tão assustador, quanto cristalino…
os nossos filhos têm de estar preparados para um dia combaterem pela UE
A imagem traz-nos a verdade dos factos! Daí, também, a enorme importância de uma Comunicação Social livre e independente! Coisa que não há na Rússia.
Quanto às redes sociais, são o território mais fértil das fake news, do incitamento ao ódio, da manipulação da opinião e do desvirtuar dos factos. Essenciais para cavar trincheiras onde não há lugar para a análise lúcida.
Por fim, as conversas do nosso quotidiano. Aqui vamos falar no singular: tenho-me apercebido muito recentemente de um fenómeno que me lembro de ouvir falar a familiares e amigos de familiares, há muitos anos e muito mais velhos, em que exatamente nestes ambientes (familiares, amigos e colegas de trabalho) se começam a formar duas correntes de opinião como havia na 2ª Guerra Mundial: os partidários dos anglófilos e os partidários dos germanófilos. E com posições que levaram a corte de relações…
Atualmente, e temos visto nas TVs, temos os completamente pró-Ucrânia e pró-Ocidente (onde se inclui os EUA e logicamente a NATO…) e os partidários dos que entendem que malgré tout (!!!) a Rússia tem o direito de defender (!!!) as suas fronteiras do perigo dessa mesma NATO e que apesar de condenarem Putin e a guerra, transformam a invasão a um Estado soberano, no tal ato de defesa! E à medida que a guerra se desenrola, até os ucranianos já começam a ter as suas culpas…
Os preconceitos, voltando novamente a Matthew Williams, são o rastilho para a explosão do ódio. E neste caso concreto, vemos incendiários a atear fogos com os preconceitos (e atavismos) ideológicos dos anos 60 e 70.
O preconceito que nos interessa aqui abordar e alertar é o perigo de confundirmos o bom povo russo (o todo), com o ditador e a sua Guarda Pretoriana, militar e diplomática (a parte).
Os preconceitos, voltando novamente a Matthew Williams, são o rastilho para a explosão do ódio
O Povo russo também é e vai ser ainda mais, vítima do ex-agente do KGB!













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