NA EUROPA "OS CARROS VÃO PASSAR DE PROTAGONISTAS A CONVIDADOS"
A Zona de Emissões Reduzidas em Lisboa é menos ambiciosa do que noutras cidades da Europa. Em Barcelona e Paris, os carros vão ser totalmente afastados do centro, e em Gante isso já acontece há anos.
Redação
Texto
15 de Dezembro 2021, 17:00
summary_large_image

E se deixassem de circular carros no centro de Lisboa? A ideia já não é nova. A criação de uma Zona de Emissões Reduzidas, que restringia a circulação automóvel a moradores e transportes públicos, da Avenida da Liberdade até ao Chiado, estava incluída na MOVE 2030, a estratégia do Executivo de Fernando Medina para a mobilidade em Lisboa. Contudo, a medida acabou por ser adiada devido à pandemia e voltou à fase de discussão quando o PS perdeu a Câmara de Lisboa para a coligação Novos Tempos. Pela Europa, várias cidades já adotaram medidas semelhantes, mas quase sempre mais ambiciosas.

Barcelona, Espanha

A ideia dos catalães é agrupar vários bairros no centro da cidade e criar “superillas”, isto é, bairros maiores, com restrições à circulação automóvel. Assim, nestas zonas já desapareceram 3.500 lugares de estacionamento, e foram aumentados os espaços pedonais e as áreas verdes, para privilegiar as deslocações pedestres ou de bicicleta.

Até agora, já foram criadas cinco “superillas”, mas os planos são para que estas zonas continuem a crescer. Em 2030, uma em cada três ruas no centro da cidade deverá dar prioridade aos peões, em detrimento do automóvel. O objetivo é criar uma rede com 21 “superillas” que funcionem como “centros verdes”, assegurando que os prédios habitacionais do centro de Barcelona estão localizados a menos de 200 metros de uma destas áreas.

Nas palavras de Janet Sanz Cid, vice-presidente da Câmara e encarregue da pasta da Ecologia, Urbanismo e Mobilidade, “os carros vão passar de protagonistas a convidados”.

Paris, França

A capital francesa quer ser a cidade “mais verde” da Europa até 2030, e tem grande planos para concretizar. O projeto para a mobilidade em Paris segue a “regra dos 15 minutos”, ou seja, define como prioridade que todos os parisienses tenham acesso a transportes públicos e serviços básicos (como escolas e lojas) a menos de 15 minutos de casa. Assim, pretende-se criar condições para que os cidadãos se desloquem a pé, de bicicleta, ou nos transportes públicos.

O Champs-Élysées, a rua mais famosa de Paris, vai ser transformado num “jardim extraordinário”, e projeto terá um investimento também extraordinário – 250 milhões de euros. Os carros vão continuar a poder circular, mas apenas em duas fachas, em vez de quatro, e será criado um “túnel de árvores” na rua com quase dois quilómetros. Intervenções semelhantes serão replicadas em vários pontos da cidade como na Gare de Lyon, na Praça da Concórdia, e na zona da Torre Eiffel. O objetivo é plantar mais de 170 mil árvores em toda a capital, cobrindo 50% da cidade com áreas verdes até 2030.

Contrariamente ao que aconteceu em Portugal, as circunstâncias excecionais provocadas pela pandemia foram utilizadas para acelerar a revolução verde em Paris.

Durante a primeira quarentena, em 2020, Paris transformou mais de 60kms de estradas em ciclovias, que ficaram conhecidas como as “vias corona”. No mesmo período, foi proibida a circulação de carro na Rue de Rivoli, que liga o Louvre ao Palácio da Bastilha. Todas estas medidas passaram depois a ser permanentes e, já no próximo ano, os quatro bairros centrais de Paris (que representam cerca de sete por cento da cidade) vão restringir totalmente o tráfego automóvel.

Parque de estacionamento para bicicletas, Gante (Bélgica)

Gante, Bélgica

Na Bélgica fica a maior zona car-free da Europa – a cidade de Gante. Desde de 1997 que os carros são proibidos na zona histórica de Gante e, em 2017, a medida foi alargada a todo o centro da cidade. Nessa altura, o trânsito foi desviado para uma estrada circular, à volta do centro de Gante, reservando o coração da metrópole para as mobilidades ativas e transportes públicos.

Em 2020, a cidade belga tornou-se também numa Zona de Emissões Reduzidas, onde os veículos poluentes não são permitidos, nem em condições excecionais. Por exemplo, para moradores do centro de Gante ou para descarregar mercadorias, a circulação só será autorizada caso o veículo obedeça às normas europeias de emissões de gases, e os mais poluentes, a gasolina ou gasóleo, não serão permitidos. Contudo, existem parques de estacionamento gratuitos, na periferia da cidade, com ligação à rede de transportes públicos.

Ao mesmo tempo, cresceu a utilização dos serviços car-sharing para quem precisa ocasionalmente de se deslocar de carro para fora da cidade. Em 2017, apenas seis mil pessoas recorriam a este tipo de serviço, mas, em 2020, já existiam mais de 20 mil. O próximo passo será substituir, até 2024, 50 por cento da frota de carros alugados por veículos elétricos.

  Comentários