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Jornalista - estagiária
Dia 24 é dia de “Saint John”
Este ano, no Porto, o São João regressa a uma Invicta que, nos últimos tempos, se tornou num verdadeiro ícone turístico.
22 Jun 2022, 00:00

As festas de São João estão de regresso. No Porto, as celebrações que enchem a cidade de cor, alho-porro e martelos, não vão ter a Ribeira e a Avenida dos Aliados como palcos únicos. Na edição deste ano, devido às obras de expansão do Metro que decorrem na cidade, as celebrações vão estar espalhadas por diversos pontos da Invicta e a ponte Luís I, ao contrário do que é tradição, não vai receber fogo de artifício.

O regresso das celebrações de São João marca o retorno da multidão ao centro de uma cidade que pertence cada vez menos aos portuenses. De acordo com a plataforma AIRDNA, o Porto conta agora com 7.230 espaços de alojamento turístico para alugar, sendo que, desse valor, 88% correspondem a habitações completas, 12% a quartos privados e 1% a quartos partilhados.

A Invicta tem mais pressão turística do que cidades como Praga, Londres ou Barcelona

Estes números ganham outra dimensão e impacto quando a autarquia, apesar das medidas que tem vindo a implementar, não consegue dar resposta aos problemas de habitação que a cidade vive. Em 2019, antes da pandemia, Portugal recebeu 24,6 milhões de turistas, desses, cerca de 10,7 milhões visitaram o Porto, fazendo com que a Invicta tenha mais pressão turística do que cidades como Praga, Londres ou Barcelona.

 De facto, quando visito o centro da cidade não oiço ditongos carregados, nem “vês” trocados por “bês” mas sim idiomas impossíveis de decifrar. Vejo um Porto que quer ser dos portuenses, mas que respira e vive para quem não o é. Exemplo disso, foi a transformação feita em Miragaia nas Escadas do Monte dos Judeus, que agora contam com escadas rolantes, intervenção benéfica para habitantes e turistas, segundo a Câmara Municipal do Porto.

Não sou pessimista. O turismo mudou positivamente a cidade do Porto e isso é inegável. Em 2018, Naíde Teixeira, uma portuense que sempre teve as Escadas dos Guindais como sua casa, mencionou numa reportagem que o turismo mudou a forma como aquela zona da cidade era vista, uma vez que esta era, até então, facilmente associada ao tráfico de droga e à criminalidade.

Não defendo um Porto imune a turistas, defendo sim um Porto equilibrado, invicto, com sotaque carregado e capaz de valorizar a população que tanto lhe dá nome

Na minha infância, festejar o São João era sinónimo de celebrar o Norte do país, tantas vezes esquecido pelo Governo central. Não defendo um Porto imune a turistas, defendo sim um Porto equilibrado, invicto, com sotaque carregado e capaz de valorizar a população que tanto lhe dá nome. Dia 24 é dia de São João num Porto que festeja cada vez mais o Saint John.

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