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Jornalista - estagiária
Eurovisão: um festival de política com escombros de Guerra
Acompanho o Festival Eurovisão da Canção desde 2008 e apesar do evento não apoiar qualquer mensagem política, o concurso é um espelho do que se passa na Europa.
29 Jun 2022, 00:00

A European Broadcasting Union, entidade responsável pela organização do Festival Eurovisão da Canção sempre salientou a independência política do certame. Apesar de todas as regras criadas pela entidade para evitar essa ligação, como a proibição de canções com mensagens políticas, o Festival tornou-se num espelho das relações geopolíticas da Europa.

A nível nacional, a presença política reflete-se na canção “Depois do Adeus”, interpretada por Paulo de Carvalho, que se tornou num ícone do 25 de abril ou, mais recentemente, a canção “A Luta é Alegria”, dos Homens da Luta, que em 2011 levaram a crítica à austeridade ao palco eurovisivo. A nível internacional, e olhando para as edições mais recentes do Festival, temos os caso da Ucrânia, que venceu edição de 2016 com o tema “1944”, onde fala sobre os ataques da Rússia e a destruição que o Estado russo provocou na Ucrânia, com os versos “Quando os estranhos estão a chegar, vão às nossas casas, matam-nos a todos e dizem que não são culpados, não são culpados”.

Sempre defendi um festival isento, centrado – verdadeiramente – na música que cada país apresenta, mas a verdade é que o mesmo se tem vindo a tornar numa arma artística de combate a tensões e rivalidades entre os países a concurso.

De facto, a existência destes conflitos não ocorre apenas no palco eurovisivo. Em 2018, quando tive a oportunidade de trabalhar no Festival Eurovisão da Canção em Lisboa, verificava-se uma profunda tensão entre países como o Azerbaijão e a Arménia, cujos camarins eram propositalmente distanciados, não existindo qualquer interação entre os artistas destes dois países.

A prova de que a Eurovisão se tornou num espelho das tensões políticas foi a recente vitória da Ucrânia na última edição do certame, tendo contado com a maioria do voto proveniente do público. Além disso, a edição ficou marcada pela expulsão da Rússia, em consequência da invasão militar feita na Ucrânia.

O Festival Eurovisão da Canção é – na minha visão – a capacidade de mostrar a diversidade de uma Europa unida, não pelos conflitos, mas sim pela cultura, num festival que surgiu precisamente para unir os países após a segunda Guerra Mundial.

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