summary_large_image
Vogal na Assembleia de Freguesia dos Olivais
Duelos ou votos: o que ganhar?
Tanto neste, como no debate com Ventura, Rio representou fielmente o aforismo futebolístico de que os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos...
07 Jan 2022, 11:00

Começo por desejar aos leitores do EuroRegião um excelente ano de 2022 que todos desejamos seja de viragem de página, face ao que vivemos há sensivelmente dois anos.

Indubitavelmente, a atualidade nacional encontra-se marcada pela pré-campanha das legislativas, com os debates televisivos a pontificarem. Desde o formato de duelos de 25 minutos bem como o imediato e desproporcionado tempo de análise por parte de comentadores, muitos deles com análises enviesadas, quais comentadores de clubes de futebol, tudo isto se torna um espetáculo completo, um pouco à semelhança dos 90 minutos de futebol e das horas seguintes a falar de arbitragens, penalties e, como os seus clubes ganham sempre, mesmo perdendo… adiante!

Um dos grandes erros de análise que vejo ser feito nas televisões é a pergunta clássica: quem ganhou o debate?

Começo por referir, que este artigo foi escrito antes dos debates de dia 6, quinta-feira à noite, pelo que vou apenas tecer considerações sobre os efetuados até quarta-feira. Um dos grandes erros de análise que vejo ser feito nas televisões é a pergunta clássica: quem ganhou o debate? Com efeito, os debates subdividem-se em 2 grandes perguntas: quem ganhou o duelo pessoal e quem ganhou votos com o debate. Note-se, pois, que podemos ter vencedores diferentes para cada uma das duas questões.

O debate Medina versus Moedas para as eleições autárquicas, do passado dia 7 setembro, é paradigmático neste aspeto. Medina venceu o duelo pessoal, mas Moedas ganhou nos votos, pois, ao ganhar a contenda, carregou na imagem de arrogância e sobranceira que os eleitores já o identificavam e somando o desgaste da governação do município, acabou por ser penalizando de forma decisiva no dia das eleições. Se os comentadores não vivessem numa “bolha”, já teriam compreendido o que aconteceu nas autárquicas em Lisboa.

 Os debates com a direita serão, pois, importantes para perceber se Costa está com “genica” para ganhar ou não

António Costa, debatendo com Rui Tavares e Jerónimo de Sousa, tem ganho facilmente a componente do duelo pessoal, o que era expectável. No deve e haver, Costa não terá ganho votos nem ao PCP, nem ao Livre que, per si, representa muito pouco. O desgaste e a saturação da governação, o que é natural dado a exigência dos últimos dois anos, verifica-se até na própria postura do primeiro-ministro. Os debates com a direita serão, pois, importantes para perceber se Costa está com “genica” para ganhar ou não.

Jerónimo de Sousa já é, neste momento, um erro de casting por parte dos comunistas, sem qualquer pedalada, numa campanha que terá pouco de rua, mas muito de mediático.

Rui Rio não tem ganho os duelos pessoais, mas tem ganho na componente de votos como passo a explicar. No debate com Ventura, Rio jogou com o ego do opositor. Quem deu a “abébia” dos três tipos de prisão perpetua foi Rio, com Ventura a querer mostrar que o seu partido estava no mesmo patamar do PSD, levou-o a dizer que afinal havia pontes para entendimento. E isto faz parte da estratégia de Rio: permitir transferência do voto útil do Chega para o PSD, enquanto alternativa a António Costa.

Ventura comete ainda um erro de estratégia crasso quando põe na mesa se Rio equacionava cortar pensões como fez Passos. Os olhos de Rio até brilharam quando teve a oportunidade de rejeitar liminarmente essa hipótese, rejeitando a herança passista, causa do afastamento do eleitorado do centro do PSD para o PS, num assunto, este sim, verdadeiramente relevante para a grande maioria dos portugueses.

Com efeito, no debate com Catarina Martins, onde os temas se centraram em torno do salário mínimo e da saúde, a líder bloquista não se apercebeu que ofereceu dois golos de “baliza aberta” a Rio para conquistar o eleitorado central

Com efeito, no debate com Catarina Martins, onde os temas se centraram em torno do salário mínimo e da saúde, a líder bloquista não se apercebeu que ofereceu dois golos de “baliza aberta” a Rio para conquistar o eleitorado central: A questão dos ordenados, onde permitiu a Rio mostrar a ideia de crescimento através do aumento de produtividade que arrastará o aumento de ordenados, mas sobretudo na questão da saúde onde afirmou liminarmente que não pretende privatizar a saúde, mas que pretende bons negócios para o Estado, onde os privados também podem ganhar.

Tanto neste, como no debate com Ventura, Rio representou fielmente o aforismo futebolístico de que os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos

Rio deu-se ao luxo de afirmar, a determinado ponto, que estava de acordo com o princípio de fundo da saúde pública com Catarina Martins. Tanto neste, como no debate com Ventura, Rio representou fielmente o aforismo futebolístico de que os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos…

Catarina Martins tem apresentado uma postura seráfica, demasiado autocontrolada. Se por um lado lhe permite não perder os duelos pessoais, dá-lhe uma aparência plastificada e, consequentemente, falsa perante os eleitores pois o Bloco de Esquerda foi o mesmo partido que suportou seis anos o governo PS, bem como o derrubou no Parlamento. O que o torna pouco confiável perante os eleitores.

No debate, CDS com o PAN, Francisco Rodrigues dos Santos surpreendeu pela energia e ferocidade, dado não estarmos habituados a vê-lo interagir com os outros líderes. Com efeito, encostou às cordas Inês Sousa Real, num remake do debate entre Assunção Cristas com André Silva de 2019.

Francisco Rodrigues dos Santos surpreendeu pela energia e ferocidade, dado não estarmos habituados a vê-lo interagir com os outros líderes. Com efeito, encostou às cordas Inês Sousa Real

Se no duelo pessoal os centristas ganharam, na questão dos votos o saldo será porventura nulo, pois o PAN tem uma implantação essencialmente urbana, onde está a grande maioria dos deputados, sendo que o interior não representa muitos votos nem tem premiado o CDS com deputados.

Pela mesma bitola, o debate entre Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal e Francisco Rodrigues dos Santos, terá dado um saldo nulo de votos pelas mesmas razões, mas com uma agravante: o tom agressivo entre os dois, a roçar o brejeiro na parte final, com que as bases dos respetivos partidos não se identificam, não beneficiou nem um nem outro, pelo que não se pode dizer que tenha havido um vencedor a nível do duelo pessoal. Sendo que a Iniciativa Liberal está mais bem colocada nas sondagens.

Este “empate” serve mais a Cotrim, pelo que Francisco Rodrigues dos Santos deve rever a sua postura, sobretudo no debate com o PSD e com o Chega, para não ficar com o epiteto de “mini-Ventura”.

  Comentários