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Consultor de Comunicação
Castilla y Leon não é Espanha. E Espanha será Portugal?
“O que acontece no país vizinho pode sempre servir de mote e de comparação com o que se passa deste lado da fronteira”.
18 Fev 2022, 00:00

A tentação de olhar para o que se passou nas eleições intercalares em Castilla y Leon e o paralelo com o que ocorreu em Portugal é tendencialmente desafiante porque, uma vez mais, o que acontece no país vizinho pode sempre servir de mote e de comparação com o que se passa deste lado da fronteira. Agora, em 2022, ou quando portugueses e espanhóis voltarem a ser chamados às urnas para escolher um novo Primeiro-Ministro. Vejamos o que aconteceu em Espanha.

O Partido Popular, no poder no Governo de Castilla y Leon, decidiu convocar eleições antecipadas e venceu-as, reforçando o número de deputados. Mas, ao contrário do que aconteceu com os socialistas portugueses, os populares espanhóis, apesar de subirem na votação (ganharam mais dois deputados), ficaram aquém da desejada maioria absoluta, elegendo apenas 31 dos 41 necessários para poderem governar sozinhos. E, tal como ocorreu com o Chega em Portugal, também o Vox viu a sua votação subir, elegendo 13 deputados, quando em 2019 tinha apenas um.

Pedro Sánchez, líder nacional do PSOE, bem que tentou repetir a fórmula de António Costa em Portugal, ao avisar as gentes de Castilla y Leon que votar no PP era meter a extrema-direita no Governo. Não resultou

Pedro Sánchez, líder nacional do PSOE, bem que tentou repetir a fórmula de António Costa em Portugal, ao avisar as gentes de Castilla y Leon que votar no PP era meter a extrema-direita no Governo. Não resultou: o PSOE, que acusa o PP de ter criado artificialmente a crise, ficou em segundo lugar, com 28 mandatos, menos sete do que tinha em 2019, não conseguindo sequer ter margem para convencer o Ciudadanos a uma eventual “geringuença” castelhana. Recorde-se que, nas últimas eleições, o partido liderado por Inés Arrimadas obteve 11 lugares no parlamento, o que lhe permitiu ser o apoio do governo PP em Valhadolid. Agora, resta-lhe apenas uma representação parlamentar, o cabeça de lista Francisco Igea.

O presidente do governo de Castilla y Leon, o Popular Alfonso Fernández Mañueco, já assegurou que irá falar com todos os partidos para formar governo. Ao contrário do que fez António Costa, Mañueco não fecha a porta à extrema-direita, mas também não diz se vai chamar o PSOE (ou o Vox) para um governo de bloco central.

No meio deste míni-turbilhão político, não deixa de ser curioso que não se ouve, nem Pedro Sánchez nem Pablo Casado, líder nacional do PP, explicarem porque é que, nesta região de Espanha, os dois maiores partidos tradicionais juntos já nem sequer alcançam 62% dos votos, com um parlamento altamente dividido entre novas e velhas forças políticas de Espanha.

Mañueco não fecha a porta à extrema-direita, mas também não diz se vai chamar o PSOE (ou o Vox) para um governo de bloco central

Mañueco tem, por estes dias, a solução de governo nas suas mãos. Normalizar o Vox ou chamar o PSOE, ou, no limite, tentar um governo em minoria, negociando caso a caso com a esquerda e a direita (uma solução “à Guterres”, como explicava por cá António Costa durante a campanha eleitoral). Esta terceira opção será, ao que tudo indica, impossível, tendo em conta que Mañueco convocou estas eleições antecipadas ainda no ano passado, depois de dissolver o parlamento, alegando falta de lealdade do Ciudadanos, parceiro de coligação.

O que acontece no país vizinho pode sempre servir de mote e de comparação com o que se passa deste lado da fronteira

Certo é que qualquer solução pós-eleitoral que saia de Castilla y Leon não deveria condicionar umas futuras eleições nacionais em Espanha e, no limite, em Portugal. Mas, como sabemos, a política também é feita destes exemplos e destes jogos de bastidores. Lá como cá, bem se pode alegar que Castilla y Leon não é Espanha. E que Espanha não é Portugal. Mas já andamos todos cá há alguns anos para percebermos que não é assim.

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