Muito se tem dito sobre os efeitos dos resultados das recentes eleições legislativas, designadamente nas condições de governação. Certo é que, independentemente desses factos ou leituras, as realidades e desafios do país se mantêm inalterados.
As “agendas” estratégicas não se modificaram, apenas o contexto e as condições políticas para lhes fazer face. Naturalmente, a estabilidade político-institucional, por um lado, e um diálogo esclarecido e integrador na sociedade portuguesa, por outro, concorrem para o cumprimento destas reformas, que terão na Região Norte um protagonista incontornável.
Com o avanço inexorável das alterações climáticas e a escassez de recursos naturais, torna-se decisivo empreender uma aposta prioritária e sem precedentes em sistemas regionais e locais de gestão dos recursos hídricos
Destaco, pela absoluta centralidade que adquiriu neste perturbador inverno primaveril, as políticas da água e da energia. Com o avanço inexorável das alterações climáticas e a escassez de recursos naturais, torna-se decisivo empreender uma aposta prioritária e sem precedentes em sistemas regionais e locais de gestão dos recursos hídricos, na promoção das energias de fonte renovável, em toda a extensão da sua cadeia de valor, e na descarbonização da economia – o mesmo é dizer, na sua eletrificação e eficiência dos consumos.
O Norte tem aqui um potencial incontornável, pelos recursos naturais que detém – geológicos, hídricos, eólicos e marinhos –, mas também pela sua vocação industrial e dimensão demográfica. É essa condição que torna a Região um ator fundamental no cumprimento – e até na antecipação – das metas nacionais da neutralidade carbónica.
A nova ordem da economia é mais verde, mais elétrica, mais inteligente e mais digital – e o Norte é e será decisivo para inscrever Portugal nesse novo paradigma de modernidade. Os fundos europeus de que esperámos beneficiar nesta década, num volume excecional, são um instrumento fundamental nesse desafio.
A nova ordem da economia é mais verde, mais elétrica, mais inteligente e mais digital – e o Norte é e será decisivo para inscrever Portugal nesse novo paradigma de modernidade
É neste contexto que emerge a renovada agenda política da descentralização e da regionalização. Por uma razão simples: os desafios do mundo de hoje reclamam respostas de proximidade e ágeis; à medida das suas realidades e integradoras de soluções. A combinação da multidimensionalidade e da especificidade territorial dos problemas que enfrentamos já não é suscetível de resoluções à distância e num tempo longo e uniformizadas.
Não sendo a varinha de condão, a regionalização é a chave-mestra de um Estado mais próximo, mais económico, mais inteligente e mais verde.
Nota: Este artigo de opinião é, também, publicado no Jornal de Notícias.
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