ESPECIALISTAS ALERTAM PARA O IMPACTO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS A NORTE DO PAÍS
A evolução das alterações climáticas está ligada ao surgimento de novas doenças, e o processo de descarbonização não será suficiente para contrariar o fenómeno.
Redação
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29 de Setembro 2021, 18:33
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Especialistas alertam para a evolução das alterações climáticas no norte do país, realçando também o impacto que este processo poderá ter na linha costeira da região. De acordo com Adriano Bordalo e Sá, hidrobiólogo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), não se pode pensar “que esta política europeia de descarbonização é uma varinha de condão para solucionar os problemas, porque não o é, de maneira nenhuma”, disse numa entrevista à Agência Lusa. 

As chuvas intermitentes, que podem causar cheias, e os períodos fortes de calor, que conduzem a um maior consumo de água “numa altura em que a água escasseia”, vão ter “fortíssimos reflexos na saúde pública das crianças e dos mais idosos”. 

Segundo Adriano Bordalo e Sá, a evolução das alterações climáticas está ligada ao surgimento de novas doenças: “começam a surgir micro-organismos nas nossas praias, que são chamados bactérias emergentes, que estão a ser sinalizadas no mundo mais rico como sendo potentes agentes patogénicos” que, de acordo com o hidrobiólogo, têm vindo a ser detetados na costa norte “em quantidades muito elevadas”. 

Diarreias, infeções nos ouvidos, nos olhos e na garganta são algumas das consequências do processo que, de acordo com Adriano Bordalo e Sá, pode “conduzir à septicemia e, aí, à morte”, em casos mais extremos. 

A descarbonização, na visão do cientista, não pode ser a única solução, já que o uso de combustíveis fósseis não pode ser desvinculado repentinamente da sociedade, mas refere também que “um carro elétrico não é necessariamente amigo do ambiente durante a sua construção e tem muita eletrónica”, uma vez que estes veículos necessitam de chips com componentes de terras raras que têm sido não só “a origem de parte das guerras na África Central”, mas também têm vindo a despertar interesse por parte do Afeganistão, menciona o biólogo. 

Ana Monteiro, geógrafa e coordenadora do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana do Porto, corrobora a perspetiva ao assegurar que “não nos vamos adaptar aos riscos climáticos com a descarbonização. É preciso muito mais do que isso”. 

A investigadora defende que é “preciso criar condições de adaptação aos riscos climáticos, à medida”, mas reconhece que “ainda vamos, durante muitos anos, conviver com os combustíveis fósseis, porque a Europa rica pode, eventualmente, mudar para os veículos elétricos ou a hidrogénio, mas o resto do mundo não o vai fazer, porque não há condições para o fazer”. 

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