TERRORISMO: TERÁ PORTUGAL UMA SEGURANÇA ILUSÓRIA?
Em 2020, foram registadas 57 tentativas de ataque terrorista na União Europeia. O fenómeno de violência ganha cada vez mais força, mas em Portugal “tem passado bastante ao lado”.
Maria João Silva / Manuel Ribeiro
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18 de Fevereiro 2022, 13:00
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O relatório de 2021 da Europol sobre o desenvolvimento do terrorismo na União Europeia revelou que, em 2020, houve 57 tentativas de ataque terrorista nos 27 estados-membros, superando assim os 55 casos registados em 2019. 

De acordo com o mesmo documento, deste número, dez correspondem aos ataques terroristas jihadistas na Alemanha, Áustria e França, grupo responsável por mais de metade das mortes (12) e feridos registados (47) na União Europeia. Em Portugal, durante o mesmo período, foi registada apenas uma detenção associada ao terrorismo jihadista. 

A nível nacional, a Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT), da Polícia Judiciária, e o Observatório de Segurança Interna (OSI) são as entidades cujo trabalho se debruça sobre o combate e estudo do desenvolvimento da violência extrema e do terrorismo. 

Nós não podemos dizer que somos seguros ou que estamos seguros sem cumprir com determinados requisitos e necessidades de segurança.

Hugo Costeira, Vice-Presidente do Observatório de Segurança Interna, referiu, em entrevista ao EuroRegião, que Portugal, em termos estatísticos e no que diz respeito a atos de violência extrema, é um país seguro, mas refere que a “segurança é uma ilusão”. “Nós não podemos dizer que somos seguros ou que estamos seguros sem cumprir com determinados requisitos e necessidades de segurança. Em termos estatísticos Portugal é um país seguro, mas também tem criminalidade, ainda que diferente de muitos outros países, uma vez que temos uma taxa de criminalidade organizada mais baixa”, acrescentando que, mesmo esse tipo de crimes está centrado em dois ou três distritos. 

Apesar do número de casos de violência extrema e de terrorismo ter aumentado na UE, segundo o Vice-Presidente do OSI, “Portugal é um país que, curiosamente, tem passado bastante ao lado desta questão do terrorismo”, mas revelou que, por outro lado, “a criminalidade altamente organizada e violenta, como o tráfico de droga, tem alguma história no nosso país”, já que o mesmo faz parte da “rota escolhida para entrar no continente, seja vindo do Norte de África ou da América do Sul”, explicou. 

 

Hugo Costeira, Vice-Presidente do Observatório de Segurança Interna

O investigador destacou que, apesar de Portugal fazer parte, ainda que indiretamente, deste tipo de crimes, este “processo não nos expõe ao nível da segurança, uma vez que esse género de criminalidade tem sido bastante fustigado pela ação da Polícia Judiciária”. 

Não acho que neste caso, estejamos a falar de um ato terrorista, podemos sim estar a falar de um ato criminoso, hipoteticamente motivado por alguma descompensação psicológica.

Quando questionado sobre o impacto da tentativa de atentado terrorista na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, evitado pela Polícia Judiciária (PJ) no passado dia 11 de fevereiro, Hugo Costeira afirma que “para haver terrorismo, tem que haver motivação e capacidade operacional e, neste caso, não havia motivação, inspirada numa visão religiosa radical, de extrema direta ou política, nem capacidade operacional, uma vez que o alegado praticante deste crime atuava sozinho com recurso a “armas frias”, ou seja, objetos de uso comum”, explicou.

“Não acho que, neste caso, estejamos a falar de um ato terrorista, podemos sim estar a falar de um ato criminoso, hipoteticamente motivado por alguma descompensação psicológica, mas há uma distância muito grande até ser um ataque terrorista”.

Segundo Hugo Costeira, este caso não deve ser um momento de medo, mas sim de valorização das forças de segurança, em particular a PJ e, simultaneamente, “um momento de aprendizagem, para compreender o que falhou, enquanto sociedade, para não termos dado o apoio necessário a este jovem. Mais do que uma questão de segurança, é uma questão de humanismo”, destacou.

Para o futuro e para as forças de segurança nacionais, declarou ser essencial “respeitar os nossos polícia”, que, atualmente, “são permanentemente desconsiderados e maltratados pela sociedade”, realçando que “estamos na iminência de ter uma doença profissional nova, que se chama indiferença, e se estes profissionais não forem vistos de forma séria, este vai-se tornar num fenómeno grave porque a segurança é um dos pilares da nossa democracia”, concluiu.

 

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