OS SEUS ELETRODOMÉSTICOS PODEM TER UMA SEGUNDA VIDA
Ricardo Vidal, da Interecycling, afirma que a reciclagem de equipamentos vai reforçar o setor da reciclagem e a sua importância nos próximos anos.
Maria João Silva
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16 de Maio 2022, 11:30
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A Interecycling, sediada em Tondela, cidade onde decorreu a segunda conferência do EuroRegião Talks, foi a primeira empresa da Península Ibérica a dedicar-se  à reciclagem de Resíduos de Equipamentos Eléctrico e Electrónicos (REEE’s). Em entrevista ao EuroRegião, Ricardo Vidal, administrador da empresa, explicou o processo de reciclagem destes equipamentos e seu impacto. 

 

EuroRegião (ER): O que é a Interecycling? 

Ricardo Vidal (RV): A Interecycling é uma empresa de reciclagem desde o ano 2000. Especializamo-nos no tratamento e recuperação de resíduos elétricos e eletrónicos, plásticos, cabos elétricos, e outras misturas de metais. 

 

ER: Como e quando surgiu a ideia de criarem uma empresa de Reciclagem de Resíduos de Equipamento Elétrico e Eletrónico? O que vos motivou? 

RV: A ideia surgiu em 1997 quando na altura a Europa estava a legislar e regular o setor de resíduos no seu todo. Os resíduos urbanos, pneus, carros, pilhas, etc., bem como os resíduos elétricos e eletrónicos (REEE’s). Para nós este marco regulatório Europeu cuja transposição a todos os estados membros foi determinante e condição central para viabilizar estes novos setores e investimentos. Importa referir que no fim dos anos 90 o setor de resíduos em Portugal estava em grande dinâmica em várias áreas. Inclusive foi quando o País encerrou a última lixeira, pois toda uma nova geração de aterros controlados estava a ser inaugurada. 

 

ER: Os portugueses já conhecem o processo de reciclagem, mas pergunto-lhe, que particularidades é que existem na reciclagem destes equipamentos? 

RV: As metas de recolha e reciclagem estão cada vez mais ambiciosas. A Europa tem colocado objetivos muito relevantes e que em muito estimulam os setores. Nomeadamente, ao nível de novos investimentos. Portugal em matéria dos REEE’s ainda estamos longe das metas de recolha. Dos quase 7 kg por habitante, apenas estamos a recolher 2,8 kg. Um dos principais motivos é que muito destes volumes estão a ir para canais paralelos e sem controlo. Ou seja, os cidadãos e empresas em geral devem fazer um esforço de selecionar e refletir melhor a onde vão entregar estes resíduos e participar o mais possível na entrega na rede e acreditada. Os REEE’s têm bastantes materiais relevantes para a economia circular e com valor de mercado. Mas também têm substâncias perigosas tais como gases de estufa (nos frigoríficos) cádmio, chumbo, condensadores, mercúrio, poluentes orgânicos persistentes e muitas outras mais que se não forem tratados e separados em tecnologias dedicadas, toda a natureza ficará potencialmente contaminada. 

 

ER: Porquê a escolha de Tondela para a sede da vossa empresa? 

RV: A escolha do município de Tondela foi devido a 3 fatores: A empresa desde o primeiro momento que necessitava de uma grande área de implantação. O que o executivo de Tondela nestes temas sempre foi muito atento e sensível. Coincidiu que o Parque industrial do Lajedo estava em lançamento e é onde estamos com 120 mil quadrados de área total, dos quais 60 mil já utilizamos;  A enorme abertura à época pela Câmara para este investimento ficar em Tondela bem como outros na área de resíduos e reciclagem que faz de Tondela na região o maior número de empresas e empregos “verdes”; E não menos importante a região tem duas artérias o Ip3 e A25. A logística Nacional e Europeia passa em 80% nestas 2 estradas. Para além de maioria da indústria do distrito provocar muitos camiões na região que precisam de ter artigos/produtos para a vinda. Os resíduos REEE’s são um desses artigos. E com isto se aplica a designada “simbiose” e eficiência ao nível logístico. 

 

ER: A Interecycling beneficia de apoios comunitários. Qual a importância deste apoio para a vossa empresa? 

RV: A Interecycling esteve 15 anos sem qualquer candidatura de fundos comunitários. Nas expansões e investimentos durante esse período a empresa apenas recorreu ao financiamento próprio e privado. Porém, atualmente participa num PT 2020 inovação produtiva e um PT2020 co- Promoção de natureza de I&D e científico. 

Estas candidaturas entendemos realizá-las pela sua natureza de pioneirismo e de inovação, que para nós nesse prisma faz sentido as condições previstas nos fundos comunitários. Isto porque, mesmo com garantias prévias de um bom sucesso, a inovação associada, precisa sempre de uma amenização temporal. 

 

ER: Até agora tem havido adesão à reciclagem destes equipamentos? Que objetivos têm para o futuro? 

RV: Como previsão, acreditamos muito no setor da reciclagem e da importância que vai ter nos próximos anos. Não só no plano ambiental, mas também na capacidade de gerar as designadas matérias-primas secundárias cuja origem é a reciclagem. 

A Interecycling tem na sua estratégia um plano de investimentos para os próximos 4 anos, onde novas tecnologias e formas de reciclagem serão iniciadas. Este setor terá de fazer bastantes esforços, para que Portugal não só acompanhe as metas Europeias, bem como possa ter um lugar de destaque na Europa em especial nestes novos valores acrescentados que a reciclagem gera. 

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