NO BAIRRO ALTO "O POLICIAMENTO CONTINUA A SER POUCO OU NENHUM"
Depois de um ano e meio os lisboetas voltaram a sair à noite, a abertura das discotecas melhorou a situação nos bairros típicos, mas continua a faltar policiamento.
Beatriz Abreu Ferreira / Manuel Ribeiro
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4 de Outubro 2021, 19:13
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Pouco depois das onze da noite já as ruas de Santos, em Lisboa, estavam cheias de jovens que animavam os bares junto ao Jardim Nuno Álvares, sempre sob o olhar atento da polícia. No largo Vitorino Damásio, a presença das forças polícias é notória, os oficiais da PSP dividem-se em pares ou trios e vão patrulhando as zonas mais movimentadas.

Ali perto, na discoteca Urban Beach, a fila para entrar já ia longa. Entre os que esperam, amontoados e aos empurrões, quase não se veem máscaras, ouvem-se várias línguas misturadas com os esforços dos seguranças a pedir, em alta-voz, “fila única”. Apesar das longas horas de espera, muitos não passaram da porta. Nesta discoteca da capital, quem não apresentou o certificado digital de vacinação e identificação para confirmar a identidade foi mandado para trás.

Por volta das quatro da manhã, já chovia nas ruas de Lisboa, mas os ainda muito desejosos do regresso às discotecas faziam fila para entrar. Em Santos, a confusão dos bares tinha-se agora deslocado para os poucos estabelecimentos que ainda serviam algo para comer. Nos bares já não se veem luzes nem se ouve música, mas, na Merendeira e no McDonalds, paragens habituais no final da noite, há filas de meia hora. A polícia, que circulava pelo largo umas horas antes, já desapareceu.

Hugo Cardoso, da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores, explicou ao EuroRegião que há “um problema muito antigo” na abordagem das forças policiais na noite. “A polícia preocupa-se com o álcool no fluxo dos bares para as discotecas, mas depois no fim da noite só há operações stop para controlo de consumo de álcool”.

Na noite de Lisboa, a PSP não consegue chegar a todo o lado. “A polícia nunca é a mais, quanto mais polícia na noite, mais segurança haverá”, considera Hugo Cardoso.

Este problema é comum ao resto das zonas com vida noturna – como o Cais do Sodré ou o Bairro Alto. Hilário Castro, Presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, também está preocupado.

“O policiamento continua a ser pouco ou nenhum. Houve uma preocupação no primeiro dia, na sexta-feira, mas a partir daí foram dias normais, com muita afluência, bares a funcionar e os espaços abertos com horário normalizados, mas policiamento continua a não haver”, conta.

“Ontem (domingo) foi um dia bastante movimentado porque é quase um fim de semana prolongado e não havia um polícia nas ruas do Bairro Alto”, reclama o presidente da Associação de Comerciantes.

Apesar da abertura das discotecas que, afirma, ajudou ao escoamento das pessoas, o “Bairro Alto continua a ser uma zona de encontros por natureza” e só o aumento do policiamento pode resolver os problemas com a violência e ruído.

Agora, “como as pessoas têm outras opções para irem continuar a aproveitar a noite, nota-se um escoamento. Mas continua a haver, e aconteceu este fim de semana, grupos de jovens que permanecem na via pública abastecidos por venda ambulante, que causam transtorno aos moradores. Era importante a presença policial de forma a dissuadir a permanência destas pessoas. Os espaços estão todos encerrados, mas vemos jovens, muitos deles alcoolizados, que permanecem no Bairro a fazer barulho”, explica.

Apesar do consumo na via pública não ser permitido, nem a venda de garradas de vidro, Hilário Castro afirma que “o que se vê mais é litrosas” vendidas por vendedores ambulantes que são, também eles, ilegais.

A Associação de Comerciantes do Bairro Alto pede o reforço do policiamento e uma estratégia diferente de atuação. “Até ao momento, a preocupação era a gestão das pessoas, e evitar os ajuntamentos, aplicando limitações à circulação em algumas ruas. O que resultou disso foi o agravamento da situação noutras zonas, que anteriormente eram pacatas, mas que se viram de repente inundadas de pessoas. “Nós achamos que a presença policial deve estar distribuída pelo Bairro Alto, não apenas concentrada nas viaturas, nas periferias do bairro, e que seja uma presença visível, que imponha respeito e atue quando for necessário, nomeadamente, para travar o consumo na via pública, a venda ambulante e a venda de estupefacientes”, sugere.

Apesar da existência de uma esquadra dentro do Bairro Alto, esta não dispõe de recursos suficientes para patrulhar uma área tão abrangente. “Ninguém pode esperar muita segurança se quem está encarregue de a assegurar, não está presente”, termina o presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto.

A falta de recursos humanos e financeiros na PSP e GNR é, há muito tempo, um problema conhecido. A Comissão Europeia contribui com fundos destinados às forças de segurança de todos os Estados Membros, sendo o Fundo para a Segurança Interna (FSI) o principal. O FSI é atribuído ao Ministério da Administração Interna (autoridade responsável), à Inspeção-Geral de Finanças (autoridade auditora) e à Secretaria-geral do Ministério da Justiça (autoridade delegada).

No entanto, este fundo não engloba problemas básicos das forças de segurança de cada Estado-membro, como o reforço de efetivos ou o melhoramento das condições laborais dos agentes. Ficando essa responsabilidade a cargo dos respetivos governos. O FSI financia projetos específicos no âmbito das prioridades da União Europeia. Entre eles, estão o combate ao terrorismo, o reforço da segurança nas fronteiras ou a cibersegurança. 

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