A polícia de Derry, na Irlanda do Norte, encontrou quatro bombas caseiras dentro do cemitério da cidade, onde terminou na segunda-feira uma manifestação de simpatizantes republicanos, noticiaram hoje vários órgãos de comunicação britânicos.
A força policial acredita que os dispositivos eram para ser utilizados num ataque planeado contra polícias após uma manifestação de simpatizantes republicanos que decorreu na segunda-feira, noticiou a estação BBC.
O cemitério da cidade em Creggan, Derry, foi isolado após a descoberta e os dispositivos foram recolhidos para perícias.
As bombas caseiras foram descobertas pelas 06:30 (mesma hora em Lisboa).
“A operação no cemitério está concluída e os policias deixaram o local”, destacou um porta-voz da polícia autónoma norte-irlandesa (PSNI), citado pela Sky News.
Na segunda-feira, ativistas com uniformes paramilitares e a cara coberta encabeçaram a manifestação, que terminou no cemitério local.
No percurso, um jipe policial foi incendiado após ser atingido por engenhos incendiários artesanais (‘cocktails molotov’).
A manifestação, que não estava autorizada, destinou-se a celebrar o Levantamento da Páscoa de 1916, quando diversas fações republicanas desencadearam uma luta armada contra o domínio colonial britânico na Irlanda.
A polícia referiu que todos os quatro dispositivos foram localizados na mesma área onde as roupas utilizadas pelos participantes no desfile foram removidas, na altura cobertos por guarda-chuvas e fumo.
O incidente ocorreu poucas horas antes da visita do Presidente dos EUA, Joe Biden, que aterrou ao início da noite em Belfast.
O chefe assistente da polícia, Bobby Singleton, referiu que a descoberta dos dispositivos em Derry foi um desenvolvimento “sinistro e preocupante”.
“As ações dos responsáveis são reprováveis e mostram um completo desrespeito e total desprezo pela comunidade”, sublinhou.
“Essas bombas caseiras suspeitas foram deixadas num cemitério, um lugar onde as pessoas colocam seus entes queridos para descansar e visitar para prestar as suas homenagens. Isso é absolutamente vergonhoso”, acrescentou.
Singleton pediu ainda a qualquer pessoa que possa ajudar na investigação policial que entre em contacto com o PSNI.
Na semana passada, as autoridades tinham alertado para a eventualidade de incidentes durante o dia de hoje, em particular na cidade de Derry (Londonderry para os unionistas pró-britânicos).
Nas celebrações do 25.º aniversário do Acordo de Belfast, também conhecido por Acordo da Sexta-feira Santa, que pôs termo a três décadas de violência entre católicos republicanos e protestantes unionistas na Irlanda do Norte (Ulster), a atenção esteve centrada nas intenções dos dissidentes do entretanto dissolvido Exército Republicano Irlandês (IRA) e de formações radicais unionistas.
As comunidades tradicionalmente rivais, a unionista pró-britânica e a nacionalista republicana pró-unificação da Irlanda, permanecem separadas, divididas em diversas regiões do Ulster pelos designados “muros da paz”, numa comprovação da prevalência das tensões.
A rejeição pelo Partido Democrático Unionista (DUP), segunda força política da Irlanda do Norte, dos acordos comerciais pós-Brexit (processo da saída britânica da União Europeia) para a região têm impedido a formação de um Governo conjunto com o Sinn Féin, o antigo braço político do IRA e a primeira força após a sua história vitória nas eleições de maio de 2022.
Este vazio político tem permitido o ressurgimento da atividade dos grupos paramilitares opostos aos acordos que ainda operam na região, e a sua atividade aumentou nos últimos meses, com a PSNI a elevar o nível de ameaça de atentados de “considerável” para “grave”.