A Comissão Europeia anunciou, na semana passada, a suspensão da utilização da aplicação TikTok nos dispositivos profissionais do seu pessoal, com o objetivo de proteger o executivo comunitário de ameaças à cibersegurança, tendo agora os funcionários até dia 15 de março para a desinstalar.
O responsável para o sul da Europa do TikTok diz, em entrevista à Lusa, que a suspensão pela Comissão Europeia da rede social nos dispositivos profissionais é “uma decisão política que vai muito além” do respeito pelas regras europeias.
“De certa forma, entendemos que o debate pode ser mais político” nos Estados Unidos, mas “aqui na Europa temos regras muito fortes” a um nível europeu e nacional “que respeitamos”, afirma Giacomo Lev Manheimer, ‘head of government relations and public policy, southern europe’ (responsável pelas relações com o governo e políticas públicas para o sul da Europa) do TikTok.
“Por isso não vemos [que a suspensão pela Comissão Europeia] esteja nesse quadro de regras, acima de tudo vemos isso como uma decisão política que vai muito além das regras e respeito pelas regras” europeias, refere o responsável.
Questionado sobre se considera que esta decisão poderá tratar-se de uma politização da tecnologia, Giacomo Lev Manheimer remata que sim.
“Claro, não somos cegos, sabemos que estamos no meio de uma tensão geopolítica”, mas há um “completo mal-entendido sobre o que o TikTok é” no meio deste conflito, prossegue.
Isto porque o TikTok “não é um veículo chinês, é uma empresa global”, salienta, apontando que a gestão da empresa está “entre Singapura e os Estados Unidos”.
Além disso, “os nossos dados estão nos Estados Unidos. Realmente, sentimos que não deveríamos estar no centro deste conflito geopolítico” e “até podemos entender a razão pela qual a pressão nos Estados Unidos é alta” relativamente à rede social, mas “honestamente não vemos razão para isso na Europa”, sublinha o responsável da rede social detida pela chinesa ByteDance.
Questionado sobre se depois da Huawei, o TikTok é o novo alvo, Giacomo Lev Manheimer salienta que a rede social “é uma empresa diferente”.
Novamente, “acho que é um equívoco sobre este paralelismo”, mas se “olhar para os factos por trás da empresa são duas empresas diferentes”, acrescentou o responsável do TikTok para o sul da Europa.
“Não falo sobre eles [Huawei], mas falo sobre nós: não temos participação do governo chinês na nossa empresa, não temos nenhum gestor chinês no TikTok, os dados nã estão na China”, elenca.
Além disso, os investidores são o fundador, os funcionários da empresa e “apenas investidores institucionais dos Estados Unidos”.
Por isso, “acho que é difícil colocar o TikTok no meio de uma tensão geopolítica se olhar para os factos”, mas às vezes o “preconceito” pode resultar nessa tentativa de comparação, considera.
A Comissão Europeia justificou a decisão com questões de cibersegurança, apanhando de surpresa os responsáveis do TikTok.
A decisão relativamente à chinesa TikTok, que é detida pela ByteDance, acontece depois de os Estados Unidos terem banido a aplicação dos dispositivos federais no país.