Em 2022, qualquer evento num ponto do planeta pode ter consequências noutro, diametralmente, oposto. É esse o reverso da medalha do processo de globalização que decorreu a todo o vapor após a queda da União Soviética e, consequentemente, da “Cortina de Ferro” que impunha. É, pois, significativo o peso que as sanções económicas à Rússia, pela invasão da Ucrânia, tenham um impacto acrescido, pois quem as pratica, também sofre com as mesmas. Sim, não é sem custos para os países que as decretam.

Um exemplo paradigmático do mesmo serão os mais de 500 aviões, avaliados em cerca 10 biliões de dólares, que estavam em leasing a companhias russas, configurando mais uma machadada no setor da aviação que recuperava da pandemia. Não se estranhe, pois, que países como a China e a Índia, com populações gigantescas, mas sem opiniões públicas tão exigentes como a ocidental, tenham alguma relutância em tomar posição, sobretudo se tal afetar as suas perspetivas económicas.

Com consciência deste jogo de forças antagónicas, a Rússia sabe que a janela temporal para obter uma vitória parcial, ou total, na Ucrânia ainda não se fechou. E, se finalmente parece que na Alemanha se desceu à terra no que respeita a lirismos sobre política energética, também o impacto do conflito foi sentido em terras lusas.

Bem sabemos que, em Portugal, o setor dos combustíveis e energia tem sido, ao longo dos anos, o melhor amigo dos ministros das finanças, como forma de arrecadar impostos

Com efeito, nas últimas duas semanas, assistiu-se a um grande aumento dos combustíveis. Mais do que a habitual “choradeira” sobre o preço, devia-se falar era no impacto que tem, a jusante, em toda a economia portuguesa. Bem sabemos que, em Portugal, o setor dos combustíveis e energia tem sido, ao longo dos anos, o melhor amigo dos ministros das finanças, como forma de arrecadar impostos. Porém, existe o efeito pernicioso de inflacionar os preços de bens e serviços, impedindo o aparecimento de novas empresas e, como sempre, imputando o custo de tudo isso ao consumidor final.

Não se sabendo ainda a composição do novo governo, diria que é importante que paradoxalmente precisemos simultaneamente de um ministro das finanças forte, para continuar a consolidação das contas portuguesas, com particular enfoque na diminuição da divida publica e, por outro lado, dum ministro da economia também forte, para não deixar que a economia seja sufocada, ou tomada refém.

existe o efeito pernicioso de inflacionar os preços de bens e serviços, impedindo o aparecimento de novas empresas e, como sempre, imputando o custo de tudo isso ao consumidor final

O Presidente da República, avisadamente, alertou para os tempos difíceis que se adivinham, sendo que o remoque não foi muito bem acolhido, por parte do Governo. Isto, precisamente porque condiciona, implicitamente, as potenciais escolhas para ocupar as pastas ministeriais.

E, no meio de todo este contexto de areias movediças, o espaço de alternativa tradicional ao Partido Socialista encontra-se algo “desaparecido em combate”, escusando-se a fazer oposição. Quase dois meses volvidos sobre as eleições legislativas, ninguém percebe muito bem se Rui Rio está em gestão corrente ou, quiçá, a ganhar balanço para se manter à frente do partido.

no meio de todo este contexto de areias movediças, o espaço de alternativa tradicional ao Partido Socialista encontra-se algo “desaparecido em combate”, escusando-se a fazer oposição

A marcação de diretas para 28 de maio é, mais uma vez, dar terreno livre ao PS para impor as suas narrativas, sem contraditório organizado e relegitimado por parte dos sociais-democratas. O CDS, depois do péssimo resultado eleitoral de Francisco Rodrigues dos Santos, terá finalmente o seu congresso no primeiro fim de semana de abril, em Guimarães. Tendo em conta que a vitória de Nuno Melo não deve estar em causa, o motivo de interesse estará na capacidade, ou não, de conseguir federar muitas sensibilidades desavindas e questiúnculas pessoais. O equilíbrio delicado entre unir o que é possível unir, bem como cortar com quem não é possível unir, será uma tarefa, que para ser bem feita, requererá precisão cirúrgica.

Chega e Iniciativa Liberal agradecem por poderem continuar à solta, sobretudo nas redes sociais, capitalizando e engrossando as suas fileiras pelo facto de serem os únicos a fazer oposição de forma coordenada e sistemática

Chega e Iniciativa Liberal agradecem por poderem continuar à solta, sobretudo nas redes sociais, capitalizando e engrossando as suas fileiras pelo facto de serem os únicos a fazer oposição de forma coordenada e sistemática.

Como diz o povo… quem não aparece, esquece!