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Vogal na Assembleia de Freguesia dos Olivais
O barco e o crocodilo
A linguagem que Putin percebe é a da força. E é força que a Europa terá de gerar, de novo, dentro de si para impedir males maiores.
25 Fev 2022, 12:00

Ontem tivemos um dia de consternação. Com a invasão da Ucrânia, por parte das forças russas, voltámos a ter uma situação de conflito armado em solo europeu.

Sendo que na real politik não existem inocentes, o que choca o comum dos mortais é ver a facilidade com que se manda às malvas o direito internacional, o respeito por um território soberano de outrem e, sobretudo, a displicência a que se condenam vidas humanas. No entanto, é também um enorme abre olhos para os europeus.

A política de prioridades avant-garde da Europa, achando que todo o mundo em seu redor se encontra no mesmo patamar civilizacional, sofreu ontem um choque com a realidade

A política de prioridades avant-garde da Europa, achando que todo o mundo em seu redor se encontra no mesmo patamar civilizacional, sofreu ontem um choque com a realidade. Putin invadiu a Ucrânia, quando quis e como quis. Mas fez melhor: ao invadir, ainda falou grosso com a Europa, dizendo, como num qualquer filme de gangsters, que ninguém se atravessasse no seu caminho ou pagaria um preço inimaginável. Subentende-se a ameaça de armas nucleares. E aqui temos uma encruzilhada moral da Europa.

Para além da inútil barragem de tweets de muito boa gente, a Europa o melhor que conseguiu foi brandir que iria aplicar sanções económicas muito graves à Rússia, com os oligarcas russos na mira. Pergunto se isso tirará o sono a Putin ou lhe arrancará apenas uma bela gargalhada?

A linguagem que Putin percebe é a da força. E é força que a Europa terá de gerar, de novo, dentro de si para impedir males maiores

A linguagem que Putin percebe é a da força. E é força que a Europa terá de gerar, de novo, dentro de si para impedir males maiores. Para se ter força é preciso energia. A mesma energia que muitos, candidamente, com a questão das alterações climáticas, decidiram abdicar da sua independência, para ficar bem nas fotos e no politicamente correto, colocando-se à mercê.

Tal como a história nos demonstra, sempre que as civilizações mais avançadas se desleixam, são dominadas e, por vezes dizimadas por povos bárbaros. Será que é desta que os europeus percebem que nada é garantido e que, se não se mostrar força e determinação, não em palavras, mas em atos, para defender as fronteiras e valores europeus, podemos estar a abrir o flanco para problemas crescentemente maiores?

Convém recordar uma frase atribuída a Winston Churchill, onde refere que, nestes contextos, um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado….

Muitos de nós portugueses dirão que isto é lá longe, do outro lado da Europa. Geograficamente é verdade, mas os efeitos também irão ser sentidos em Portugal

Muitos de nós portugueses dirão que isto é lá longe, do outro lado da Europa. Geograficamente é verdade, mas os efeitos também irão ser sentidos em Portugal. O previsível aumento da energia, de forma direta e indireta, atingirá a economia portuguesa por via da inflação dos produtos que importamos de países diretamente afetados, com a Alemanha à cabeça, bem como pelo aumento natural do petróleo, com impacto direto no preço dos combustíveis. Convém lembrar também que, como membro da NATO, Portugal também está envolvido nas operações de defesa comum. Recorde-se que em outubro do ano passado, quatro aeronaves F16M, compreendendo 84 militares portugueses, foram destacadas para missão de policiamento aéreo nos Países Bálticos, nomeadamente na Lituânia.

Com o escalar da situação, não é de excluir que a Marinha portuguesa também seja envolvida no âmbito da logística da NATO. É sempre bom lembrar o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte

Com o escalar da situação, não é de excluir que a Marinha portuguesa também seja envolvida no âmbito da logística da NATO. É sempre bom lembrar o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte que postula: “As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas”.

Estamos, pois, todos no mesmo barco!

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