RUI RIO: “ESTAMOS AQUI A FALAR DE AQUECIMENTO GLOBAL COM ESTE FRIO”
Não comeu as arrufadas na Briosa, mas passou à porta. Rui Rio andou pela baixa de Coimbra e falou aos apoiantes do PSD na Praça da Canção.
Manuel Ribeiro
Texto
21 de Janeiro 2022, 22:11
summary_large_image

Foram algumas dezenas, os apoiantes do PSD que se juntaram a Rio na rua Ferreira Borges para darem início à arruada prevista para a tarde de sexta-feira (21.01), em Coimbra, “não posso ir a todos os conselhos, mas vou a todas as capitais de distrito”, prometeu o líder social-democrata que se juntou aos apoiantes e jornalistas concentrados em frente à Câmara Municipal de Coimbra, pouco depois das três e meia. A arruada começou de imediato pela rua acima.

Rio, sempre ensanduichado pelos operadores de câmara das televisões e pelos seguranças, lá ia tentando o contacto mais próximo com as pessoas e os lojistas. Loja à direita, loja à esquerda, “já não vai passar aqui”, disse uma das lojistas que viu a “caravana passar”, mesmo à sua frente.

Quase a chegar ao Largo da Portagem, Rio não terá reparado na montra da Briosa, a pastelaria que exibe, com orgulho, os Pastéis de Santa Clara, o Pudim das Clarissas e as Arrufadas de Coimbra, doces conventuais muito procurados pelos visitantes (sem esquecer os pastéis de Tentúgal).

“Conversas Centrais” em vez de Comícios

Depois de atravessar a ponte de Santa Clara, inaugurada por Salazar em 30 de outubro de 1954, a comitiva laranja chega à Praça da Canção. “Quero dar um cumprimento especial a todos os concelhos de Coimbra, onde eu não pude ir”, lamentou Rui Rio no início da sua intervenção nas “conversas centrais”, um novo modelo que substitui os tradicionais comícios das corridas eleitorais. “Eu acho mais útil” este modelo, “as pessoas podem fazer perguntas e assim um contributo para uma campanha eleitoral mais civilizada e produtiva”, disse, reforçando que “a alternativa é fazer o que o PS faz, e nós temos visto o Dr. António Costa a cada dia que passa a campanha eleitoral eleva mais o tom contra o PSD e procura deturpar mais aquilo que são as próprias propostas do PSD. E ontem chegou a máximos, fechou-se numa sala, meteu lá uns intelectuais e daí saiu a mensagem que eu sou um pequeno Nazi”, acusou Rui Rio, em referência a Rosa Mota que lhe chamou de “nazizinho” numa sessão de autógrafos com António Costa. “Fica a falar sozinho”, respondeu Rio, arrancando as primeiras palmas da tarde.

O tema foi o ambiente, e para falar sobre a matéria, estiveram Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e Rui Rio, presidente. A conversa central foi moderada por Mónica Quintela, cabeça de lista pelo PSD, no distrito de Coimbra.

“Sobre a questão ambiental, o PSD tem óbvias tradições na área, fomos o partido pioneiro a introduzir o tema na agenda política, na governação do país. Eu era líder do PPM, na altura e lembro-me do arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles que foi ministro de Estado do Dr. Sá Carneiro, em 1979, com a pasta Qualidade de Vida e já aí estávamos a introduzir o tema. Depois entrei na JSD e, nessa altura, tivemos um secretário de Estado do ambiente, que era o Dr. Carlos Pimenta, hoje um cidadão respeitável. Portanto, o PSD olha para as questões do ambiente com respeito, sabendo que não há plano B, mas sim plano A e temos de seguir o plano A descarbonizando através de menos emissões e outra de maior captura dessas emissões através de espaços verdes. É uma oportunidade para a economia, para a reformularmos e caminharmos para uma economia circular e assim fazermos um caminho coerente e no sentido daquilo que é o respeito pelas gerações futuras. O que estamos a fazer é construir o legado que vamos deixar aos mais novos e esse legado é construir um planeta habitável para todos”, explicou o líder laranja. Antes de passar a palavra ao seu vice, que é especialista ambiental, Rio sublinhou duas medidas “um pouco diferentes” do que têm vindo a dizer.

Uma é a vontade de colocar no código da contratação pública a questão ambiental. Ou seja, todos aqueles que prestam serviço ao estado serão escrutinados em termos da qualidade dos bens que produzem, “na forma como os bens são produzidos em termos ambientais”, valorizando as empresas que investiram nesse objetivo e o segundo é a criação dos planos municipais para a descarbonização. “Todos temos consciência que é um problema global, mas que depois só é resolvido com o contributo de cada um de nós, individualmente. Os planos municipais para a descarbonização serão fundamentais para irmos monitorizando, município a município, e com isso construir o todo do país.

E depois, naturalmente, premiando (porque estamos em campanha eleitoral) ou castigando (mas esta não é para agora) todos aqueles que não cumprirem os objetivos pretendidos. Mas, agora, é só premiar!”, disse Rui Rio antes de passar a palavra ao engenheiro Salvador Malheiro.

Rui Rio em contacto com a população de Coimbra. 21 de Janeiro de 2022. PSD/João Pedro Domingos

Principais questões do ambiente e energia

“Apesar de termos alguns partidos com história recente que fazem questão de erguer a bandeira do ambiente como a sua grande prioridade, há que relembrar este passado, designadamente da nossa luta contra a instalação de centrais nucleares cá. Se estivéssemos à espera do Bloco de Esquerda ou do PAN que nem sequer existiam olhem como nós estaríamos hoje. Isto deve-se ao Partido Social Democrata”, começou por dizer Salvador Malheiro.

Ao vice-presidente dos laranjas coube-lhe enumerar as principais questões do ambiente e da energia propostas pelo PSD. “Portugal tem condições naturais únicas para ser um país de referência nesta matéria de ambiente e energia” disse, antes de avançar para as ideias concretas avisando que o governo socialista é “fortíssimo em propaganda”, dando como exemplo a qualidade dos PDF, mostrados nas apresentações, o que é certo é que “nenhuma das metas de transição energética foram cumpridas, o Governo falhou”, acusou o social-democrata.

De acordo com Malheiro, o PSD tem ideias muito distintas em matérias de ambiente e energia. “Queremos democratizar o sector da energia e ambiente, queremos descentralizar, queremos projetos espalhados por todo o lado, não queremos um projeto megalómano em Sines, que todos sabemos a quem vai beneficiar, queremos pequenos projetos com a produção encostada ao consumo”, prometeu o engenheiro ambiental.

É preciso “dar cenouras aqueles que se portam bem”

O programa eleitoral do PSD em matéria de ambiente e energia passa pela concretização de planos de implementação das medidas, mais ação menos promessas. É preciso “dar cenouras aqueles que se portam bem”, disse Salvador Malheiro fazendo referência aos presidentes das câmaras municipais, onde ele próprio se inclui enquanto presidente da câmara de Ovar.

“Estamos aqui a falar de aquecimento global com este frio, fechem a porta”

Malheiro ainda voltou a tocar no assunto do Hidrogénio, mas remeteu aprofundar este tema noutra altura. E lembrou os 3 mil milhões de euros afetos para a eficiência energética. Para combater a pobreza energética e as deficiências no aquecimento das casas, “temos um clima ameno, mas mesmo assim as pessoas continuam a morrer porque não tem dinheiro para se aquecer”. Malheiro quer rever o plano nacional para a energia e o clima. Quer reformar todo o setor de resíduos, que é uma das áreas que está a falhar. “Queremos regenerar espaços, tendo em conta as alterações climáticas e incentivar a eco inovação das empresas”. Malheiro concluiu com a vontade de apoiar projetos que sejam bem feitos e reprovar todos aqueles que não cumpram os requisitos ambientais.

“Estamos aqui a falar de aquecimento global com este frio, fechem a porta”, disse Rui Rio numa altura em que o sol já havia desparecido por detrás da colina e o frio abateu-se sobre a Praça da Canção.

 

Fotos: PSD/João Pedro Domingos

  Comentários