LEGISLATIVAS 2022: OS CINCO DEBATES MAIS MARCANTES DA PRIMEIRA SEMANA
Costa, Rio, Ventura, Catarina Martins e Rui Tavares protagonizaram alguns dos frente a frente mais mediáticos da primeira ‘ronda’ de debates.
Duarte Pereira da Silva
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10 de Janeiro 2022, 19:24
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A pré-campanha eleitoral está a ser inevitavelmente marcada pelos debates entre os líderes dos respetivos partidos. António Costa, Rui Rio, André Ventura, Catarina Martins e Rui Tavares protagonizaram alguns dos frente a frente mais mediáticos da primeira semana.

André Ventura – Catarina Martins (domingo, 2 de janeiro)

Naquele que foi o segundo frente a frente televisivo, o debate entre o líder do CHEGA e a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) ficou marcado pela corrupção. Todavia, foi Catarina Martins que começou ao ataque, acusando “a extrema-direita de nunca ter feito nada para combater a corrupção”. Na resposta, André Ventura garantiu que o CHEGA foi o partido que mais propostas apresentou nesse sentido, acusando o BE de ter chumbado uma proposta para duplicar as penas para crimes de corrupção.

O Rendimento Social de Inserção (RSI) foi outro dos temas marcantes do debate. Catarina Martins argumentou a importância deste tipo de apoios para os mais desfavorecidos, enquanto André Ventura afirmou que “há bombeiros e polícias que ganham 200 euros de pensão depois de uma vida de serviço ao país e o Bloco de Esquerda quer dar 700 euros a quem chega do Mediterrâneo com um telemóvel na mão”.

A finalizar, Catarina Martins garantiu que não fará acordos com a direita e mostrou-se disponível para chegar a um entendimento com o Partido Socialista. André Ventura considerou “precoce” discutir eventuais cenários quando os portugueses ainda não votaram, mas garantiu que tudo fará para tirar António Costa do poder.

Rui Rio – André Ventura (segunda-feira, 3 de janeiro)

Era um dos debates mais aguardados, sobretudo porque, segundo a maioria das sondagens, para o PSD formar governo vai precisar do CHEGA. Apesar de não ter ficado inteiramente claro, Rui Rio não descartou chegar a acordo com André Ventura, colocando a pressão do lado do CHEGA: “o Dr. André Ventura tem de decidir se quer chumbar o governo do PSD e abrir as portas a um governo da esquerda ou não”. No contra-ataque, Ventura respondeu que “o CHEGA só aceita um Governo de direita em que possa fazer transformações e isso implica presença no Governo”.

Um dos pontos mais inusitados do debate foi a discussão sobre a pena de morte. O CHEGA defende este tipo de solução para determinados crimes, como por exemplo a pedofilia, e, se Rui Rio afirmou, por um lado, que “estamos a falar na prisão perpétua ponto final paragrafo, isso nós somos contra”, por outro, abriu a porta à discussão, citando o exemplo da Alemanha, em que a pena é revista ao fim de 15 anos.

António Costa – Jerónimo de Sousa (terça-feira, 4 de janeiro)

Num debate entre dois partidos (PS e PCP) em que as relações já conheceram melhores dias, António Costa e Jerónimo de Sousa trocaram culpas sobre a responsabilidade da queda do governo.

“O Governo do PS chegou a um momento em que claramente desistiu e em vez das soluções, começou a pensar em eleições. Toda aquela imagem de o Governo querer uma maioria, depois foi anunciando uma maioria estável, depois foi anunciando uma maioria mais uma, e, finalmente, o PS avança: Nós queremos a maioria absoluta e para isso convocámos as eleições”, atirou o Secretário-Geral do PCP.

Em resposta, António Costa disse não fazer qualquer sentido a argumentaria dos comunistas, aludindo à situação pandémica: “Mas há algum primeiro-ministro em algum país do mundo que provoque eleições antecipadas numa crise destas? Toda a gente sabe que nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance no limite do razoável para poupar os portugueses a esta crise política”, disse.

Sobre uma possível repetição da ‘Geringonça’, o líder do PS foi muito cauteloso: “Neste momento, não sinto confiança para dizer que essa é uma solução estável”. Já Jerónimo de Sousa afirmou que o PCP tem uma posição construtiva: “Temos um compromisso com os trabalhadores e, neste quadro, estamos numa posição construtiva, porque achamos que é possível melhorar a vida dos portugueses. O conteúdo das coisas é que determina a nossa posição”.

André Ventura – Rui Tavares (quarta-feira, 5 de janeiro)

Era um dos frente a frente que, à partida, menos expectativa gerava, mas que acabou por ser um dos mais interessantes. Quando todos esperavam um André Ventura ao ataque, Rui Tavares conseguiu trocar os papeis e travar o rolo compressor de Ventura.

Logo no início do debate, Rui Tavares acusou Ventura de ser um candidato do sistema e, numa das tiradas da noite, ridicularizou o programa do CHEGA: “O programa de André Ventura fala de cidades, zero vezes. Do interior, zero vezes. Universidade, zero vezes. Do mar, zero vezes. Ambiente, zero vezes. Constituição, zero vezes. Presidencial, zero vezes. Parlamento, zero vezes. Assembleia, zero vezes. Deputado, zero vezes. Poluição, zero vezes. Língua portuguesa, zero vezes. Mulher, zero vezes. Violência doméstica, zero vezes. Bola!”, exclamou o candidato do Livre.

Ventura, naturalmente, não se ficou e partiu para a ofensiva: “O Chega quer desmascarar o que estes senhores têm feito, por detrás de um ar cândido, de propostas muito ecológicas, muito humanistas e beijinhos para um lado e outro, estão mais impostos para os portugueses, uma justiça que não existe e favorece corruptos e bandidos e um sistema político que continua a engrossar”.

Quanto ao pós-eleições, Rui Tavares foi claro, afirmando que, se a direita vencer as eleições, o LIVRE estará na oposição. Já Ventura manteve a porta aberta para eventuais entendimentos com o PSD, mas sempre exigindo a presença no Governo.

António Costa – André Ventura (quinta-feira, 6 de janeiro)

António Costa e André Ventura estiveram, na passada quinta-feira, 6 de janeiro, frente a frente. Era um dos debates mais aguardados da campanha eleitoral. Para André Ventura, o confronto com o Primeiro-Ministro revestia-se de especial importância, uma vez que o Secretário-Geral do PS é o alvo predileto de André Ventura.

Costa inspirou-se em Tavares e arrancou ao ataque

Foi mesmo António Costa que começou ao ataque – talvez inspirado na estratégia de Rui Tavares (LIVRE) – questionando o líder do CHEGA sobre se já se teria sido vacinado. Ventura retorquiu e, após alguma insistência do moderador (João Adelino Faria), afirmou que irá tomar a vacina. Porém, Ventura aproveitou a oportunidade para atacar o Governo pela forma como geriu, ao longo dos últimos dois anos, o processo de vacinação.

O primeiro-ministro não se ficou e continuou ao ataque. Desta feita, António Costa pegou na proposta do CHEGA para uma taxa única de IRS, considerando-a uma “medida profundamente promotora de desigualdade”. Ventura respondeu argumentando que será um processo gradual – entre quatro a oitos anos – e que a receita fiscal perdida irá ser recuperada em cortes com os gastos da classe política.

António Costa: “Por mim, o senhor não passa”

Pelo meio, António Costa fez questão de deixar uma indireta a… Rui Rio: “Elegeu-me [André Ventura] como seu inimigo número um. Não o chamo de inimigo, porque sou um democrata, mas não estou aqui nem para o moderar nem para o mitigar. Por mim o senhor não passa”.

Casa Pia e Sócrates para fechar um debate quentinho

A finalizar, o líder do CHEGA atacou o Primeiro-Ministro de tentar interferir com o processo Casa Pia e lembrou José Sócrates: “Oito governantes seus [António Costa] estão a braços com a justiça, vem aqui falar de corrupção? Devia era pedir desculpa aos portugueses pelos inúmeros casos de corrupção que o PS gerou, por estarmos a julgar um ex-primeiro-ministro”.

Costa não se deixou ficar e retorquiu que “para mim não há filhos nem enteados e ninguém está acima da lei, seja socialista ou não. Qualquer socialista que viole a lei tem de ser responsabilizado e é uma vergonha para o PS. Eu digo isso hoje e sempre”.

Analistas dão vitória a Costa

De acordo com a maioria dos analistas, António Costa venceu o debate diante de André Ventura. Segundo os mesmos, o Primeiro-Ministro repetiu a estratégia de Rui Tavares e conseguiu colocar, em grande parte do tempo, o líder do CHEGA na defensiva, evitando o ‘rolo compressor’ que tem caraterizado o discurso repetitivo de André Ventura.

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