AMBIENTAISTAS CONTRA O CAMINHO DAS GINJAS NO PARQUE NATURAL DA MADEIRA
Várias associações e partidos ecologistas manifestaram-se contra a construção de uma estrada na floresta de Laurissilva, Património Mundial da Humanidade da UNESCO.
Redação
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13 de Dezembro 2021, 14:00
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O Partido ecologista Os Verdes afirma-se em “profunda discordância” com a concretização do Caminho das Ginjas, no quadro da Consulta Pública do Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Este percurso de 9,25 km, no Parque Natural da Madeira, entre o Sítio das Ginjas e Estanquinhos no planalto do Paul da Serra atravessa “uma área de grande sensibilidade, raridade e valor ambiental, a floresta de Laurissilva, classificada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO” que “sofreria grandes impactos ambientais negativos” caso a obra para o Caminho das Ginjas fosse concretizada.

Segundo o mesmo, este projeto “assenta na pretensão do Governo Regional da Madeira de transformar este antigo caminho florestal, de terra batida, numa estrada com as caraterísticas inerentes ao estatuto de Estrada Regional”.

Também o Partido da Terra considera que a obra “não beneficia a população nem o ambiente, pelo que não deve ser executada”, mas “antes pelo contrário, o atual caminho deve ser fechado, para prevenir a assinalada erosão hídrica exposta no Estudo de Impacte Ambiental”, sublinhou coordenador regional do partido, Válter Rodrigues, citado pelo DN Madeira.

Igualmente, várias organizações não-governamentais manifestaram-se publicamente contra a realização do projeto na área protegida.

Para a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), “não existem quaisquer dados que comprovem a necessidade desta infraestrutura: não há qualquer justificação socioeconómica, e muito menos ambiental”, destacou Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA, em comunicado. Dizendo ainda que o projeto “não só não tem qualquer utilidade para a conservação da natureza como põe em causa anos de trabalho e investimento na proteção da floresta Laurissilva”, por isso, “não faz qualquer tipo de sentido,” lamenta.

Já a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, numa nota publicada em fevereiro deste ano, afirma que “existe, entre a localidade das Ginjas (Município de São Vicente) e o Paul da Serra, um caminho florestal que atravessa uma mancha de Laurissilva bem preservada. Esse caminho florestal tem sido utilizado essencialmente pelos serviços florestais e entidades associadas, em trabalhos de investigação científica, vigilância, restauro e proteção do ecossistema e das espécies ameaçadas”.

“O Governo Regional e o Município de São Vicente pretendem pavimentar o caminho da Ginjas, com o argumento da valorização social e económica, promovendo um projeto que tem sofrido forte contestação pública pelos impactes negativos na Laurissilva”, continua.

A associação ambiental lembra ainda que a Laurissilva “encerra um enorme conjunto de espécies da fauna e da flora endémicas da Madeira e da Macaronésia, muitas delas ameaçadas. Esta floresta produz também uma série de serviços de ecossistema fundamentais para a ilha da Madeira e para os seus habitantes, entre os quais se destaca a manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico da ilha, influenciando na disponibilidade e qualidade da água, na contenção de enchentes e na proteção do solo. Acima de tudo, é um património que valoriza o território e a imagem da região, e que todos os madeirenses e visitantes devem respeitar e proteger”.

“A conversão deste caminho de terra batida numa Estrada Regional implica não só a pavimentação, mas também um alargamento da via para uma largura média de 4 metros e a construção de estruturas que irão destruir plantas nativas e ter um impacte devastador na biodiversidade desta área protegida,” explicam as associações ambientais num comunicado conjunto.

As mesmas consideram que o atual Estudo de Impacte Ambiental “não cumpre” os requisitos legais e apesar de reconhecer “a importância da conservação deste habitat e da necessidade de aumentar a sua resiliência a incêndios e eventos climáticos extremos relacionados com as aluviões”, discordam que a melhor abordagem seja alargando e pavimentando este caminho.

“Pelo contrário, propõe-se o investimento na recuperação das margens do caminho com vegetação nativa, que se condicione o acesso para fruição à passagem pedonal e que se controle o acesso automóvel não autorizado. Estas medidas permitirão reverter o impacte nefasto que esta estrada tem vindo a ter sobre os habitats e o equilíbrio hidrológico do local, em vez de o agravar,” terminam.

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