WEB SUMMIT: A NEWSROOM É UMA START-UP QUE PRETENDE COMBATER A DESINFORMAÇÃO
“Eu e a minha cofundadora percebemos que a desinformação estava a tornar-se um problema muito grande. Em primeiro lugar, no foro político. Mais tarde, no clima. E agora, a saúde".
Manuel Ribeiro
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4 de Novembro 2021, 13:44
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Pedro Henriques é o cofundador de The Newsroom.ai, uma das 75 startups que constam na lista do programa “Road 2 Web Summit”, promovido pela Startup Portugal e que contribui com um prémio pecuniário de 5 mil euros para além da hipótese em participar na Web Summit.

O EuroRegião conversou com este jovem economista que é natural do Porto e viveu uns anos em Dublin, na Irlanda. O empreendedor de 30 anos acumulou parte da sua experiência quando foi analista da dados, no Linkedin.

EuroRegião: O que é a NewsRoom e o que faz?

Pedro Henriques (The NewsRoom.ai): A Newsroom é uma aplicação que pretende combater a desinformação e promover a pluralidade online. Desenvolvemos uma tecnologia de inteligência artificial explicativa que permite fazer uma avaliação da fiabilidade de notícias de jornal, numa primeira instância, que poderá evoluir para comentários online e etc. de forma transparente. O que é que isto significa? O utilizador vai sempre perceber o que é que a nossa tecnologia tomou em consideração para dar uma avaliação a um certo artigo.

EuroRegião: Verá Jourová disse ontem que há uma preocupação crescente com a proteção de dados, sobretudo os dados pessoais que os algoritmos das grandes empresas tecnológicas estão a retirar dos seus utilizadores. Podes explicar melhor como vai funcionar a vossa aplicação, tendo em conta estas preocupações?

PH: O nosso produto inicial é um plugin de browser. O utilizador que esteja a ler noticias quer seja num jornal online quer seja numa rede social, ao ter o nosso plugin instalado vai ter uma avaliação das notícias que está a ler, e neste caso será uma espécie de semáforo (verde, amarelo e vermelho) mas depois, ao clicar nesse semáforo, vai perceber os elementos que a nossa tecnologia tomou em consideração.

Nós temos cinco elementos-chave que analisámos. Foram elementos obtidos em discussões com os jornalistas. O que perguntámos aos jornalistas foi (pondo de parte numa primeira instância a tecnologia – o AI): eu como leitor informado o que é que devo olhar para um artigo de jornal para avaliar a fiabilidade disso?

Definimos essas cinco áreas e depois usamos a Inteligência Artificial para as escalar.

EuroRegião: Quais são essas áreas?

PH: As áreas vão desde a fonte de informação: se é um jornal? Qual a sua qualidade? A transparência do artigo, identificando o seu autor. As referências, quem está a falar sobre o mesmo tema e se o artigo usa referências. As afirmações-chave, e aqui foi uma grande inovação tecnológica, pois nós cruzamos essas frases com uma série de fontes fidedignas existentes na web e por último, a replicação, ou seja, o quê que um leitor informado poderia fazer para perceber e validar o que está a ler. É obvio que o leitor pode fazer isso, mas vai demorar muito mais tempo do que a nossa ferramenta automatizada.

EuroRegião: Em termos de fiabilidade, qual a percentagem?

PH: Há dois aspetos nesse campo, o primeiro foi pedir o feedback dos utilizadores e, neste campo, as avaliações (assessments) que fizeram encontram-se na ordem dos 95%, mas a parte mais importante para nós a transparência. Isto porque, sabemos que ninguém vai conseguir criar uma tecnologia 100% fidedigna.

Ao dar essa transparência aos utilizadores vai ser fácil para eles identificarem e alertarem-nos quando algo corre mal e dar de alguma forma o poder ao utilizador. Porque em muitos casos, não é binário, não é certo ou errado, há nuances de várias naturezas.

Pedro Henriques e Jenny Romano fundadores da aplicação. Foto: DR/TheNewsroom

EuroRegião: O plugin ativa-se automaticamente ou o utilizador tem de o ativar cada vez que visita um site?

PH: O plugin ativa-se automaticamente, seja em qualquer plataforma que utilize. Por exemplo, se está a fazer um scroll numa rede social: Twitter, Facebook e etc., passa por um artigo e vai ter o nosso logotipo: verde, amarelo ou vermelho, automaticamente. E quando o utilizador clica numa dessas cores, terá informação de como se chegou a esse resultado. Uma das falhas das redes sociais é o seu sistema de incentivos, ou seja, sabemos que estes incentivos são os anúncios ou conteúdos patrocinados, o marketing, e muitas das vezes os conteúdos mais sensacionalistas, mais impressionantes são aqueles que recebem maior número de cliques e de visualizações

EuroRegião: O Pedro estudou economia e depois gestão, no Porto, mas mudou de área. foi para a Irlanda trabalhar como data analytics e data science analyst na Linkedin. Como surgiu a ideia para esta aplicação e o que é que vos inspirou?

PH: Eu e a minha cofundadora, Jenny que trabalhava na Google, também na Irlanda, percebemos que a desinformação estava a tornar-se um problema muito grande. Em primeiro lugar, no foro político. Mais tarde em questões como o clima. E agora, mais recentemente, a saúde.

O papel da tecnologia tem um impacto brutal na vida de todos nós. Numa talk, aqui na Web Summit, um deputado europeu estava a dizer precisamente isso. Ele disse: “um engenheiro pode colocar para fora uma tecnologia que vai ter um reach de milhões de pessoas e isso é um poder que não existia antes”. E, portanto, isso pode ser usado de forma boa ou má. Acho que há muitos casos que têm acabado mal e, mesmo sabendo que esse nunca foi o objetivo de quem criou, nós queremos contrariar isso.

EuroRegião: Qual é a tua opinião sobre a mais recente polémica em torno do Facebook?

PH: No que diz respeito ao micro-targeting, que o Facebook utiliza muito. Nós acreditamos que deva existir uma escolha verdadeira para o utilizador. Dizemos verdadeira porque esta questão dos cookies, tem que se lhe diga. Muitas vezes aceitamos cookies que na verdade muita gente não lê. Aceitamos políticas de privacidade que nos são impostas e que temos de as aceitar se queremos mesmo aceder a uma plataforma. E, portanto, acreditamos que devem existir formas melhores de dar esse controlo ao utilizador por um lado e por outro lado, no que diz respeito à transparência, queremos ser muito claros com os utilizadores sobre toda essa viagem enquanto navegam por sites ou pelos feeds das redes sociais.

EuroRegião: Quais são as expectativas que têm da Web Summit?

Pedro Henriques: Temos uma série de expectativas, a primeira e a maior, é trazer utilizadores que usem a ferramenta, que nos deem feedback e construam connosco esta aplicação. Estamos, também, à procura de investidores e, por último, esperamos poder falar com mais pessoas como o Manuel, com os media que amplificam o que estamos a fazer. A aplicação, neste momento, está em beta e será oficialmente lançada durante o mês de novembro.

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