AVEIRO'27: "A VIDA SEM CULTURA NÃO FAZ SENTIDO, NÃO TEM RAZÃO DE EXISTIR"
O objetivo é “afirmar Aveiro como um território culturalmente evoluído, e um dos territórios no país de charneira em termos de oferta e criação cultural”.
Beatriz Abreu Ferreira / Manuel Ribeiro
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3 de Dezembro 2021, 13:00
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A sede da candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura 2027 fica no edifício do Teatro Aveirense, ou não fosse este um dos maiores símbolos da oferta cultural da cidade. O teatro com 140 anos de história já “passou por um período de alguma incerteza quanto ao seu futuro”, até que, em 2016, “repensou a sua existência no contexto em que está inserido, e conseguiu implementar-se como um teatro centrado na sua cidade e no seu território,” conta José Pina, Coordenador da Comissão Executiva da Candidatura Aveiro’27, ao EuroRegião.

“O teatro é o grande motor do movimento cultural da cidade, e não se limita às suas quatro paredes. É o teatro que organiza, por exemplo, o festival dos canais e o festival da luz”, alguns dos protagonistas da programação cultural aveirense, e também “não se limita a uma direção artística numa determinada área. É multidisciplinar, tendo uma oferta variada para diferentes públicos”, continua.

Nesse sentido, este lugar centenário espelha o projeto para o futuro cultural da cidade. É prioridade “apostar na defesa do património material e imaterial” de Aveiro, assim como na “programação de excelência”, que deve ser “diversificada e não sazonal”, garante José Pina. Já a grande ambição é “afirmar Aveiro como um território culturalmente evoluído, e um dos territórios no país de charneira em termos de oferta e criação cultural”.

Para isso, a candidatura a Capital Europeia da Cultura assenta em quatro eixos estratégicos: a cultura, a tecnologia, as pessoas e o ambiente. “A nossa campanha tem como essência o lado mais positivo da vida, associado à felicidade e à alegria de existirmos enquanto parte de uma comunidade, em que a cultura é essencial e deve fazer parte do ADN de cada região, não sendo dissociável da sua génese. A vida sem cultura não faz sentido, não tem razão de existir,” declara.

Para muitos, a escolha da área da tecnologia como pilar de uma campanha pela cultura pode parecer pouco óbvia, mas segundo o coordenador da iniciativa, para Aveiro faz todo o sentido. “Há um ecossistema cultural associado ao avanço tecnológico que faz parte da identidade e do ADN da região. Aveiro é uma das regiões do país mais avançadas tecnologicamente, e teve sempre uma presença muito forte na evolução tecnológica e na relação da tecnologia com a indústria, com a arte e com a investigação. Temos uma universidade que surgiu a partir de iniciativas ligadas à tecnologia e que, hoje em dia, tem na tecnologia um campo de trabalho bastante importante. É aqui que estão algumas das maiores empresas de investigação tecnológica do país, como é o caso da Altice,” argumenta.

“Além disso, acreditamos que esta dimensão tecnológica é essencial para o futuro, da humanidade e das regiões, por isso ela tem uma relação, que para nós é fácil de estabelecer, com a cultura, com as artes, e com o modus vivendi da população,” diz ainda.

Teatro Aveirense Foto: Beatriz Abreu Ferreira

Simultaneamente, nesta cidade construída entre os canais da ria que penetram pela malha urbana, a “relação entre o homem e a natureza é umbilical”. “A nossa relação com a ria, com o mar, com as lagoas, e com um conjunto de rios que dão corpo ao rio Vouga e que banham o nosso território, há muitos séculos que sempre esteve presente no dia a dia desta cidade, que tem se desenvolvido, mas que terá sempre uma relação para a vida com o ambiente que a rodeia,” considera José Pina.

Na verdade, ligação da cidade ao meio envolvente é tão evidente que, para alguns dos programas artísticos mais aguardados do ano, o palco é transportado para as águas da ria. É o caso do Festival dos Canais, um evento com concertos, espetáculos de dança, teatro, circo contemporâneo e artes visuais, que mobiliza toda a cidade para a celebração da cultura e da arte.

O Coordenador da Comissão Aveiro 27, explica que “a cidade e o concelho têm tido nos últimos anos um crescendo de oferta cultural” e “dentro dessa evolução positiva há um grupo de eventos marcantes”, como o Festival dos Canais ou o Festival de Luz PRIMA que são bastante “diferenciadores”, e outros que primam pela relevância da sua tradição na região, caso do festival Bienal de Cerâmica Artística, “uma arte muito marcante no território”, ou do festival Dunas de S. Jacinto.

Contudo, nesta cidade candidata a Capital Europeia da Cultura há, neste momento, uma lacuna que a população não perdoa, e que até motivou um movimento popular – o Movimento de Cidadãos pela Cultura em Aveiro. Trata-se do encerramento das duas principais salas de cinema, primeiro a do Fórum Aveiro, em 2018, e seguidamente a do Glícinias Plaza, no início de 2020, (ainda que esta última seja de forma provisória), algo que nem o abaixo assinado da população conseguiu impedir. José Pina, enfatiza que “continua a existir cinema em Aveiro todas as terças-feiras no Teatro Aveirense” e, nota, “ainda há pouco tempo, o festival de cinema italiano teve ótimos números de espetadores”.

Independentemente de ganhar o título, a cidade já beneficiou do processo de candidatura, garante o responsável. Até agora, a maior conquista, considera o coordenador, foi “colocar o tecido cultural a falar entre si, a fazer planeamento, a pensar com mais ambição, estrategicamente, e a internacionalizar a sua oferta. Outro aspeto foi a capacidade de envolver a comunidade”. Para a equipa da Aveiro’27, a herança mais importante deste trabalho será “a capacidade das pessoas se envolverem na criação artística e na dinâmica cultural do território”. “Queremos ter mais e melhores atos culturais, um nível de frequência cada vez mais elevado, um povo cada vez mais culto e mais participativo, mais criativo e dinâmico, que queira investir neste setor do seu território. Esse para nós é o grande resultado”, sublinha o mesmo.

Mas, caso Aveiro seja eleita Capital Europeia da Cultura, a fasquia sobe: “Se ganharmos o título, vai mudar de forma significativa o panorama cultural e artístico da cidade”, promete José Pina.

Faro, Évora, Oeiras, Leiria, Coimbra, Braga, Viana do Castelo, Guarda, Funchal, Ponta Delgada, Vila Real também estão na corrida a Capital Europeia da Cultura 2027. Acompanhe as candidaturas das restantes cidades portuguesas no EuroRegião.

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